Anualmente, temos o dia 15 de outubro como dia das professoras e professores, inicialmente uma data para ser comemorada, exaltada pelo significado social do ser professor para qualquer sociedade que vislumbre o melhor para tod@s seus cidadãos.
Entretanto, para nós do CERL não vemos a comemoração como algo sincero no Brasil, sendo muito mais oportunismo, hipocrisia do que realmente ações concretas que mostrem se pensar nos professores durante seus 365 dias do ano.
O Brasil passa por um momento delicado, que tem por objetivo enfraquecer todo conhecimento científico e crítico, o que perpassa por inferiorizar a figura do profissional da educação, seja pela propagação de mentiras (táticas da pós modernidade), tais como uso de fake-news, discursos de lideranças políticas para disseminar desinformação e o projeto arrojado de Escola Sem Partido para implantação e implementação do pensamento único tradicionalista, reacionário, que entende o mundo sobre seu próprio umbigo, criminalizando os professores por pensarem diferente, por levarem a um pensamento plural, destoando do que o dogmatismo reacionário do Escola Sem Partido tem tentado impor.
Além dessa Situação de desvalorização da figura, imagem dos profissionais docentes, existe o problema real da desvalorização material, com salários cada vez mais defasados, principalmente no estado de São Paulo - na rede estadual de Ensino, 5 anos sem reajuste salarial, reposição salarial - destruição da carreira docente, sem um plano de carreira digno, desrespeito ao Estatuto do Magistério (LC 444/85), haja visto o último ataque como a Portaria CGRH n°6/2019, e simultâneo a isso, temos os discursos e projetos de leis que são preparados aos montes para achatar ainda mais nossas condições de trabalho, que visam nos desqualificar e justificar uma política de arrocho com retirada de "privilégios", como é nítido com a Reforma da Previdência Nacional vislumbrando o servidores públicos federais estaduais, municipais (sendo os estaduais e municipais inseridos na proposta atual da reforma por PEC, posterior a aprovação da que tramita na câmara senatorial), o que significa na prática uma nítida ação para desvalorizar, ainda mais, o ofício do professor, desestimulando essa carreira.
A nós educadores críticos compete pensarmos e agirmos para construirmos algo que não seja o que estamos vendo nos ser ofertado, esse dia 15/10 não é dia de comemoração, não é dia de nos deixar levar pela expressão de que ser professor é uma "vocação", como se por ser vocação, devamos nos sujeitar a todo tipo de situação, nos desrespeitarmos pessoalmente e profissionalmente por conta do belo discurso que temos um dom em nossas vidas, a dádiva de "ser professor"!Ser professor é ser exemplo também, e exemplo não se dá apenas dentro da sala de aula, se dá na sua prática cotidiana, na sua luta contra todas as imposições que somos submetidos, sem ter ao menos nossas vivências levadas em consideração.
Historicamente desde Comenius (o primeiro registro que se tem na criação de uma pretensa metodologia/didática pedagógica) ali pra 1600, defendia um olhar redentor para Educação Formal. Esse olhar redentor, onde ser professor é um dom divino foi perpassado ás gerações e é uma das justificativas para os baixos salários (se é dom qualquer um pode ensinar e pior, de graça, porque um dom não deve ser cobrado!). A perspectiva redentora da educação também é responsável pela acriticidade e neutralidade de parte da categoria, principalmente aqueles/as cegados por dogmas religiosos. Os herdeiros pós Comenius, precursores das pedagogias ativas também não escaparam a essa visão de mundo: Pestalozzi, Maria Montessori, Froebel, Rousseau, entre outros. Todos tiveram sim sua importância principalmente ao bater de frente com as formas hostis empregadas nas escolas confessionais, mas o que descaracterizou todo o trabalho foi a defesa da “Educação Redentora”. As pedagogias ativas as quais têm como respaldo Piaget, no fundo ainda conservam o viés redentor. A alternativa a elas parte de perspectivas marxianas e anarquistas (Makarenko, Vigotski, Wallon entre outros) que entendem o papel fundamental do professor como transmissor do conhecimento legado pela humanidade. Aqui no Brasil temos Freire e Saviani como exemplo de pedagogias críticas, é preciso ter clareza que Piaget e o construtivismo (termo criado por Emilia Ferrero) é a base teórica dessa atual pedagogia do neoliberalismo e da meritocracia pautada em habilidades e competências (Zabala, Perrenoud, entre outras pérolas).
15 de outubro de 2019, comemorar ou refletir?
O ano de 2019 se caracteriza como arena para os mais diversos e sórdidos ataques á Educação. Cortes de verbas, revogação de bolsas e incentivos a pesquisas, perseguição, assédio e violência, como parte de um projeto de precarização do trabalho docente, na tentativa de minar esforços daqueles que ainda acreditam que só a luta é capaz de mudar nossa realidade.
Aproveitamos aqui para deixar nossa saudação a todos e todas vocês, que mesmo sob pressão e adversidade, não se furtam do papel emancipatório que é transmitir o conhecimento que a humanidade produziu ao longo de sua história. Isso não é pouca coisa, como quer que pensemos nosso patrão, ao tentar destruir a nossa autoestima derrubando os nosso direitos e precarizando nossa condição de trabalho, motivo esse, que por vezes, nos faz adoecer.
Jamais desanimem ou abaixem a cabeça, porque tornar possível e mostrar o caminho de saída da caverna (ou da bolha) para descobrir o mundo é inerente a nossa profissão - e isso é muito perigoso, embora combalidos da luta diária, por vezes desacreditados pelos podres poderes, que possamos seguir acreditando na imensurável importância do nosso papel na sociedade. Ampliamos horizontes, mudamos realidades evidenciamos potenciais, entre tantas outras ações que são tão temidas pelos opressores. Que a liberdade se faça presente neste e em todos os outros dias das nossas vidas dentro da Educação.
A nós educadores estaduais, dia 18/10 é dia de mostrarmos que tipo de educadores que somos, não nos iludirmos com o discurso oportunista do dia 15/10 e estarmos na rua, na avenida Paulista, vão livre do Masp, às 14h, para construirmos um movimento que denote nova vontade, nossa necessidade de grupo profissional, que nos oportunize melhores condições de vida pessoal e profissional, termos o valor real do SER PROFESSOR. É na assembleia, na coletividade onde vamos paralisar as atividades, estarmos presentes, acompanhar propostas e votar pelo melhor para o coletivo. Todos e todas somos importantes para reverter a situação colocada! Na assembleia que se decide, não antes, não somente com discurso, nem com microfone, selfie ou carregando bandeira!
Parabéns as professoras e professores que sabem qual é seu papel e acredita na luta para transformar.
Corpo na luta e um forte abraço a vocês meus queridos e queridas colegas de profissão.
CERL - Coletivo Educadores Resiliência e Luta (Subsede Mauá)
Comentários
Postar um comentário