A violência dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos. (Paulo Freire).
O papel da escola não é mostrar o lado invisível da lua, isto é, reiterar o cotidiano, mas mostrar a face oculta, ou seja, revelar os aspectos essenciais das relações sociais que se ocultam sob fenômenos que se mostram a nossa realidade imediata. (Demerval Saviani).
"O único poder social dos operários é a força de seu número." (Karl Marx).
Apresentação
Como ensina Paulo Freire e Demerval Saviani, entendemos que a educação escolar é emancipatória e humaniza, bem como o professor/professora é elemento-chave na transmissão do conhecimento que a humanidade produziu ao longo de sua história. É a partir desse norte que foi formado o Coletivo Educadores Resiliência e Luta (CERL), um agrupamento que nasceu com base na necessidade em buscar respostas para os diversos questionamentos oriundos da prática educativa a qual está submetida os seus membros, no locus específico que é a sala de aula, o chão da escola.
O entendimento para criar esse grupo de luta docente perpassa pelo espaço crucial da representação do trabalhador, o Sindicato (em nosso caso essa instância é a APEOESP - Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Segundo informações da própria entidade, a APEOESP conta com 180 mil sócios, sendo um dos maiores sindicatos da América Latina, mas ainda assim no nosso entender, necessita ampliar a luta real para manter e contemplar os anseios dos professores(as). Nessa época difícil marcada pela retirada de direitos e por lutas que ocorrem a fim de mantê-los, uma vez que as conquistas vêm se escasseando cada vez mais, o ano de 2015 foi emblemático para alguns professores que foram os membros fundadores desse coletivo.
O ano de 2015 marcou a vida desses professores e de todos os outros valorosos lutadores que, descontentes com a educação pública do Estado de São Paulo, encamparam uma greve que perdurou por 92 dias, que de acordo com a entidade foi a maior já vivida pela rede estadual paulista, contra uma série de problemas de ordem profissional e educacional culminando numa luta ampla, mas que trouxe como vitória reconhecer quem está do seu lado e quem está do lado do opressor, assim, tivemos um contato mais próximo, pessoas que se aproximaram por ideias afins, com o objetivo de contribuir para a transformação real ao sair da zona do discurso e praticar o que acreditavam. Nesse sentido, 2015 contribuiu para um contato mais próximo e, assim, um elo de amizade se formou, ainda não éramos um coletivo, mas a ação sempre conjunta em prol do que acreditávamos e a participação marcante na APEOESP-Subsede Mauá foi nos fazendo sentir a necessidade em atuar de forma organizada, a qual foi efetivada na eleição interna da Subsede Mauá em 2017, quando decidimos nos unificar e criar o Coletivo CERL para somarmos com outros lutadores na intenção de combater a burocracia que domina a APEOESP.
Nosso agrupamento começou dessa maneira e, de forma coletiva, decidiu pelo nome com ênfase na Resiliência, cuja palavra está associada à capacidade de refazer-se, ressurgir, pois temos por entendimento que hoje ser professor(a) é refazer-se, ressurgir todo dia, encontrar-se nas condições adversas colocadas aos educadores e aos educandos, de modo a tentar manter o foco, encontrar-nos em nós mesmos e espelhar-nos em quem nos inspira, em quem está junto conosco - CERL é sinônimo de refazer-se, ressurgir todo dia no cotidiano caótico em que estamos inseridos, num modelo de sociedade meritocrática, individualista, injusta, desigual e exploratória, típica do Sistema Capitalista, defendida por um estado ultraliberal, que quer nos tornar insignificantes, coisificados, líquidos, instantâneos, apenas números, dessa forma, ser resiliente é saber que vamos ter altos e baixos, mas vamos uns com o apoio dos outros nos ressignificando, refazendo, ressurgindo, tornando a viver, criando vínculos, acreditando no nosso papel de como somos importantes como agentes transformadores por meio da educação formal e da luta coletiva.
Contexto
A conjuntura internacional marcada pelo Capitalismo uníssono tem demonstrado desde sua crise acentuada em 2008 que os principais afetados, como sempre, como nos mostra Galeano, são os trabalhadores menos abastados economicamente, com o agravante daqueles e daquelas que tem seu lugar e sua identidade marcados por viverem na considerada zona histórica de espoliação ianque-europeia: os africanos e nós latinos americanos.
Esse suplício parece não ter fim, pois a sede dos grandes monopólios internacionais muitas vezes associados aos herdeiros das velhas monarquias, oligarquias ou aristocracias locais, atualmente com nova roupagem, formam a restrita elite que se estabeleceu no poder a fim de manter seus privilégios, seu rico padrão de vida e até ampliá-los, independente de quem vai se prejudicar. Isso posto, fica claro que não há interesse para que a classe trabalhadora, principalmente dos países periféricos, usufrua minimamente de seus direitos fundamentais garantidos pelos mais diversos estatutos internacionais, ferindo o princípio básico da Dignamente da Pessoa Humana garantido na Declaração Universal Direitos Humanos, que dirá então dos outros princípios? Que dirá o trabalhador e a trabalhadora, bem como seus filhos e filhas, ter acesso ao conhecimento mais desenvolvido produzido pela humanidade a fim de garantir a ascensão nas esferas decisórias?
Ao contrário, temos assistido em escala mundial ao esforço ilícito desses herdeiros do poder, que usam e abusam de sua autoridade privilegiada, de conluios e disseminação de falsas informações, numa constante para tentar modificar direitos sociais conquistados por meio de muita luta e organização coletiva, na intenção de lhes garantir as "menores perdas possíveis", o que na prática tem deixado nós do lado de cá de mal a pior dia a dia, visto o renascimento à fórceps do que de pior a humanidade produziu até hoje: o escravismo, o totalitarismo, o nazifacismo, a classificação humana pautada na eugenia e o silenciamento de todo aquele e aquela que incomoda ao falso moralismo respaldado em nome de Deus e do Estado autoritário ultraliberal.
Sabemos que o Brasil não sofreu de cara com a crise mundial, mas com o passar do tempo esses efeitos foram se fazendo sentir e concomitante a isso os capitalistas brasileiros associados aos monopólios internacionais que têm interesses de ordem direta e indireta no país, entenderam ser oportuno fazer ajustes políticos para salvaguardar seus negócios e até ampliá-los sobre a desculpa sacana de CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL, implementando reformas em diversas áreas estruturais para o suposto funcionamento do país, sacrificando como de costume nós trabalhadores. Assim, os problemas de ordem financeira e política fez o Brasil após 2013 entrar em colapso pela ingovernabilidade orquestrada por setores que vieram a se tornar os novos golpistas usurpadores que conduziram o país a um buraco ainda maior do que o esperado, afundando os trabalhadores para os tempos mais sombrios que se podia imaginar para esse período.
O país se arrocha, Saúde e Educação não são prioridades, não são vistas como investimentos, mas sim despesas, cuja alternativa é arrochar mais e mais para se enquadrarem no modelo de governo "enxuto" com suas contas.
A educação paulista a cerca de 20 anos nas mãos do PSDB, partido político ligado ao interesse do capital, tem uma política de manipulação de dados e disponibilidade racionalizada de recursos, não dando conta da oferta de educação pública qualificada que se almeja aos filhos e filhas dos trabalhadores e trabalhadoras, pelo contrário, tem se acentuado a perda de qualidade e aprofundado o sucateamento das instituições de ensino público do Estado de São Paulo, governos após governos tucanos: Mário Covas (1999-2001), Geraldo Alckmin (2001-2006; 2011-2018), José Serra (2007-2010) e atualmente João Doria (2019- em exercício).
A situação caótica colocada na Educação no Estado de São Paulo é um reflexo do cenário nacional, que tem a sua piora significativa na tentativa de inviabilizar o governo petista, desse modo, a situação se agravou demais no Brasil. Assim sendo, nosso país sofreu com o orquestrado golpe destituinte do PT governado pela presidente Dilma Rousseff no ano de 2016, ampliou-se a tentativa de golpe com junção da mídia e da justiça com operação jurídica denominada “Lava Jato”, a qual se tornou um canal direto de perseguição ao ex-presidente Lula, o maior expoente de uma esquerda reformista que manteve uma política de conciliação com a burguesia, mas que conseguiu alavancar avanços sociais e de uma forma positiva diminuir a desigualdade social ao combater a miséria estrutural. Por outro lado, esse mesmo partido amortizou nos brasileiros o espírito combativo transformador levando-os a tornarem-se meramente consumidores ao invés de cidadãos, buscando interesses consumistas individuais mais que os coletivos, algo imperdoável em uma época de tantas perdas para nós trabalhadores.
É nesse cenário que emerge a figura do "pseudo outsider" Jair Messias Bolsonaro, figura da pior estirpe política, um protótipo fascista do século XXI que se sustenta na base das inverdades (fake-news), no discurso do ódio à diversidade que afronta o falso moralismo da família tradicional burguesa e se não bastasse, usa da religião fundada na fé judaico-cristã para justificar as atrocidades que incita e comete em nome de Deus.
Nessa lógica de quebra do Estado Brasileiro e do estado democrático de direito, orquestrado por vários dos setores golpistas (empresários, ruralistas, militares, entre outros), somado ao clima de banalização da política partidária, descrença e esgotamento, a população brasileira escolhe um projeto político de governo de ultra direita, entreguista ao capital norte americano, que tenta escamotear todos direitos para colocar o Brasil de cabeça no projeto ultraliberal que detona as condições de viver dignamente aos trabalhadores.
Educação
A Educação no Brasil necessita avançar para ser uma educação de qualidade, que possibilite garantir a tod@s uma formação integral que dê condições para a pessoa buscar o melhor para sí, conjuntamente, é essencial ter a formação de cidadãos que saibam seus deveres, e direitos e lutem por melhorias sempre para terem condições plenas de viver com dignidade.
A Educação para nós do CERL é o cerne do país que queremos, deve ser viabilizado pelo Estado como prioridade máxima, que seja pública com excelência, o que perpassa pela necessidade de valorização primeira dos professores com condições salariais dignas, estimulantes a dedicação plena do processo de ensino/aprendizagem, o investimento real na estrutura que vise uma escola atrativa condizente com o século XXI.
A Educação emancipadora que queremos tem uma relação dialógica entre Governo - Escola - Professores - Alunos - Família - Sociedade e isso só é possível numa relação democrática plena, na qual todas decisões devem ser coletivas, sem exceção, para sua consolidação se faz necessário e urgente o amplo debate e construção do que é Democracia, fazer ruir os interesses pessoais oportunistas que sobrepõem toda construção coletiva.
Assim, a luta pela Educação que almejamos necessita da luta de todos que realmente acreditam na necessidade de mudar, e pela forma democrática e coletiva, esse é o Coletivo Educadores Resiliência e Luta.
Professores
O nosso papel na sociedade é estratégico e de suma importância ao que almejamos enquanto presente e futuro. Ao refletirmos nosso papel, não tem como não indagar: o que somos: reprodutores ou produtores nessa sociedade? O nosso coletivo pensa a questão do ser docente, como uma atividade em permanente práxis: teoria e prática na sua formação docente e cotidiana, ou seja, o professor necessita estar atualizado, se formando constantemente e refletindo sempre (auto-reflexão).
Entretanto, sabemos, que nossa situação na rede pública estadual não tem sido nada fácil, principalmente, pelas seguintes divisões que ocorreram ao longo do tempo, particularmente nesses anos todos de PSDB, que instituiu professores efetivos e contratados; professores PEBI e PEBII; Categorias: A,F,O,V,S nos tornando uma “sopa de letrinhas”, enfim, situações diversas que tendem a nos individualizar mais do que pensar na coletividade, por conta das necessidades específicas pormenores que vão acontecendo na vida profissional educacional de cada educador.
O professor que tem a atitude de produzir vai despertar no educando a criticidade, uma vez que ele já é assim, ele necessita saber que seu papel é de levar ao despertar da consciência do estudante para que o mesmo crie condições reais para transformar sua realidade, não apenas do ponto de vista material, mais, e principalmente do ponto de vista, humano, sendo um cidadão pleno que não compactue e nem mantenha e perpetue o sistema de opressão que é comum na sociedade na qual estamos inseridos.
Funcionários da Educação
A Educação não se restringe a alunos e professores, vai além, muito além, na verdade. Nosso coletivo CERL compreende que todo o processo educativo é um conjunto de ações que ocorrem durante as 24 horas do dia, assim, temos a formação fora da escola e dentro da escola, na escola, todos os presentes fazem parte do papel educacional, seja, o funcionário da limpeza, cozinha, administrativo, enfim, todos os presentes.
O CERL defende que todos os funcionários sejam parte integrante do processo educativo e também da luta (educação na práxis), e assim, se somem ao nosso coletivo com suas virtudes para acrescentar na Educação e Sindicato que queremos enquanto indivíduos críticos que acreditam na necessidade de mudar o que está colocado na atualidade.
Violência no cotidiano da escola.
O dia a dia na escola tem sido marcado por muitas situações advindas da sociedade capitalista, que constrói a desigualdade, injustiça, e essa realidade se faz presente no universo escolar.
A situação de violência é um problema sério que tem dificultado ainda mais o processo de ensino/aprendizagem, pois, com sua ampliação no interior das escolas, leva a mudança de foco do processo educativo, que se transforma no local de controle de ações sociais de transgressão do que propriamente de educação, o que por sua vez, cria uma atmosfera de tensão, distanciamento (humano e educacional), e acentuação da punição como mecanismo da manutenção da disciplina escolar.
As condições de violência são tão graves que obrigam muitos profissionais da educação se ausentarem de sua condição laboral, com licenças, afastamentos de curto, médio prazo, readaptações e no extremo até a exoneração.
Assim, os discentes são significativamente prejudicados por conta da ausência do profissional, cuja rede estadual não cria condições reais para enfrentamento da problemática de violência, não tem uma política de assessoramento eficiente aos profissionais conseguirem desenvolver seu trabalho com dignidade que se faz necessária, e também, pela violência que impacta diretamente em sua formação cidadã seja na escola, seja no cotidiano.
Como vemos nos dados abaixo, disponibilizados pela APEOESP, sobre a violência que os professores sofrem:
Professores afastados por transtornos mentais ou comportamentais em todo o Estado de São Paulo
ANO
AFASTAMENTOS
2017
45.879
2018
50.864
Professores agredidos em todo o Estado de São Paulo
ANO
REGISTRO DE AGRESSÕES
2017
251
2018
434
A caracterização da violência não se limita ao contato físico apenas, a violência se manifesta de diversas maneiras, seja, em agressões verbais, perseguições, assédios,.................
Sindicato
O sindicato é um espaço crucial para a luta coletiva dos trabalhadores, é nesse espaço que devem ser criadas ações para que todos tenham condições reais de lutar para manter e conquistar direitos, ampliar suas condições formativas, laborais, culturais, de lazer e entretenimento, enfim, um espaço do trabalhador, para o trabalhador, assim que o mesmo deve se sentir, o Sindicato é seu!
A defesa do sindicato se faz necessária, ampliar a consciência nos trabalhadores de seu papel e na sua valorização, independente das falhas que ocorrem, entendermos como pensou Karl Marx em 1867, em uma de suas análises "Sindicalismo: passado, presente e futuro", que nitidamente percebe q a força da classe trabalhadora está em seu número, e seu número só pode significar alguma coisa quando os trabalhadores conseguem se entender e buscam aspirações comuns coletivamente, ou seja, elevando o papel real do sindicato, acatando suas decisões coletivas que dada a unidade permitirão avançar na consciência de classe, no rompimento com a opressão por parte dos grupos dirigentes da sociedade.
Nossa força é a União, sempre seremos diferentes, plurais, com percepções inúmeras e variadas, contudo, na hora de buscar a construção coletiva, o que deverá importar é o bem coletivo, não os interesses individuais, o que tem fragilizado a luta.
Assim, como pensou Karl Marx, "agir como centros de organização da classe trabalhadora, atuando no grande interesse de sua completa emancipação”, buscamos que o Sindicato seja um espaço de defesa dos interesses coletivos e de emancipação da consciência individualista em prol dos interesses coletivos.
Objetivos
Possibilitar a busca da mudança consciente entre os pares da educação para valorizar e acreditar na construção coletiva ao invés do individualismo.
Valorizar o espaço da construção da luta coletiva: o Sindicato.
Princípios
1.Escola pública de qualidade e laica.
2.Professor como centro no processo educativo de qualidade.
3.Direitos dignos para todos.
4.Professor do século XXI.
5.A luta como práxis do chão da escola.
6.Democracia e Direitos Humanos: indissociável pra nós!
7.Respeito às diferenças.
8.Independência sindical de classe.
9.Busca de acordos coletivos.
10. Pluralidade de ideias.
11. Formação contínua.
Ações permanentes
Formação em atpc
Visitas em escola com um protocolo padrão
Boletim virtual e impresso.
Podcast.
Página digital (blog, face, etc.).
Considerações finais
Referências
ALVES, Giovanni. Limites do sindicalismo - Marx, Engels e a crítica da economia política. -- Bauru: Giovanni Alves, 2003.
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.. 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paulo Freire.São Paulo: Paz e Terra, 1996.
_____________. Pedagogia do oprimido. 17a. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Trad. Galeano de Freitas. 8a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
KARL, Marx; FRIEDRICH, Engels. Manifesto do Partido Comunista..Ed: Avante, Lisboa, 1997.
SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações..9a ed. Campinas: Autores Associados, 2005.
________________. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política...32a ed. Campinas: Autores Associados, 1999. Coleção polêmicas do nosso tempo v.05.
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