América do Sul: levante contra todas retiradas de direitos sistemáticas e contínuas do Capitalismo.
Atualmente, temos visto uma série de contestações sérias eclodindo por vários países da América Latina, que culminam em manifestações de ruas, e por retorno de um campo político partidário ligado a uma “centro-esquerda reformista” no campo do sistema político burguês estabelecido na atual conjuntura.
O mote das principais manifestações se dão no Chile, Argentina, Bolívia, Peru e Equador no momento com condições reais de serem estimuladores para mais países do continente.
No entanto, esse desmonte de direitos-migalhas aos quais levaram a eclosão das massas populares nos países latinos de tradições hispânicas, encabeçados principalmente pelos herdeiros dos povos originais, necessita de um olhar um pouco mais acurado no tocante ao que representou a exploração histórica de cunho capitalista nas Américas.
A grosso modo, a história das Américas foi e continua sendo marcada pelo advento da espoliação que começou com a chegada dos europeus no período da expansão mercantilista (fins do século XV - início do XVI), tendo em vista a necessidade de ampliar e dominar as rotas comerciais em benefício aos países da Velha Europa, aqui já é possível delimitar um pré ou proto capitalismo.
Pois bem, a expansão ultramarina europeia trouxe consigo as marcas da exploração, espoliação, escravidão, dominação, submissão e extermínio no tocante à cultura e identidade dos povos originais e de seus descendentes, bem como a dilapidação dos recursos naturais das terras conquistadas.
A política de extermínio dos povos indígenas originais e a espoliação das riquezas das terras das Américas foi comum a todos os países que formam esse Continente e, diga-se de passagem, graças a retirada desses recursos naturais às custas de tortura e morte dos povos indígenas e dos povos africanos, visto o modelo escravista, os países europeus considerados centrais (Inglaterra, França e Alemanha) conseguiram patrocinar as condições necessárias para a Revolução Industrial, e mais, é considerada como “a pedra fundamental sobre a qual se construiu o gigantesco capital industrial dos tempos contemporâneos”, Galeano (1979, p. 91). Interessante é notar o papel que Portugal e Espanha desempenharam nesse período, ao depenarem suas colônias latinas e repassarem gratuitamente nossas riquezas a esses países na intenção de manter o alto custo do luxo de suas cortes imperiais.
Muito ouro, prata, cobre, estanho, madeiras nobres de nossas florestas, alimentos, enfim, nossas riquezas foram com o passar dos séculos a verdadeira moeda que banca a engrenagem do modelo capitalista de produção que tem na espoliação de recursos, na propriedade privada, na disseminação das guerras e na escravidão velada do trabalho assalariado, seus principais tentáculos.
O tempo passou, mas a espoliação continua e pior, aumenta, porque não bastasse os mandatários europeus, agora nós latinos somos o quintal de nosso “quase hermano” mega espoliador États-Unis, ou melhor, United States of America (foi trocada a cultura erudita francesa pela cultura de consumo americana e os "caras" são tão egocêntricos que se denominam “Americanos”, americanos somos todos nós!). Assim sendo, com o advento das máquinas e da tecnologia, descobriu-se o valor do petróleo (e do petro-dólar), do gás natural e dos minérios com poder de alta destruição que impulsionam a indústria da guerra, um outro capítulo da desumanidade inerente à exploração e desumanização do modelo capitalista de produção para geração de riquezas.
“Bolívar tinha afirmado, certeira profecia, que os Estados Unidos pareciam destinados pela Providência a alastrar a América de misérias em nome da liberdade”, idem (1979, p. 280-281).
Ainda hoje nos roubam ouro, prata, pedras preciosas; vendem nossa água doce no mercado de commodities; negociam a preço de banana nossa flora e fauna para as farmacêuticas; retaliam mais e mais nosso solo para a especulação imobiliária enquanto a maioria de nós não tem acesso à casa própria e nem aos medicamentos ou saneamento básico; doam nossos braços, corações e mentes em um processo contínuo da escravidão latina imposta aos herdeiros e herdeiras dos povos originários, povos africanos e dos imigrantes europeus e asiáticos, pobres miseráveis resultado de um modelo de exploração capitalista que não deu certo no lado de lá e assim precisaram ser exportados para o lado de cá.
É óbvio que na atual conjuntura do ultraliberalismo apregoado pela cartilha pós-moderna defendida pelo FMI, Banco Mundial e demais responsáveis pelo aprofundamento da miséria e reprodução das desigualdades, nós, herdeiros da pauperização real corporificada na fome, na falta de trabalho, de moradia e de dignidade tendemos a nos insurgir contra aquilo e aqueles que nos oprimem.
Assim sendo, é possível perceber que a insurreição das massas na atual conjuntura vai muito além da quebra dos direitos pseudo democráticos, é uma história de luta e resistência dos povos que formam a Latinoamérica contra o patrão explorador, hoje sob novas roupagens (grandes cartéis empresariais atrelados às cúpulas governamentais corruptas das diferentes esferas sejam elas: legislativas, judiciárias e executivas; e instâncias: globais, nacionais e regionais).
A América Latina é um dos celeiros da riqueza global que mantém os países ricos, mas que ao contrário do esperado, toda essa riqueza nos é devolvida com juros e correção na forma de extrema pobreza e desigualdade social. Como pode um Continente tão rico apresentar índices de miséria tão absurdos?
O ultraliberalismo aumentou a concentração de renda de uma minoria e disseminou mais pobreza que vem sendo ao longo do tempo corporificada por nós latinos, inclusive pela pretensa classe média, que não se enxerga enquanto classe operária, mas que nessa conjuntura não consegue manter seu padrão de consumo e nem seu emprego, ou seja, todos os trabalhadores e trabalhadoras do mercado formal e informal empobreceram, estão sem trabalho e sem perspectiva, assim sendo, romper com o status quo é partir sim “pro tudo ou nada” e talvez a ação direta seja muito mais significativa para o retorno dos vínculos coletivos que a espera de ações democráticas oriundas de um sistema estruturado para servir o Capitalismo.
CERL - Coletivo Educadores Resiliência e Luta.(Subsede Mauá)
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